O livro das ilusões...

... de Paul Auster.

«Toda a gente pensava que ele estava morto. Em 1988, quando saiu o meu livro sobre os seus filmes, quase sessenta anos haviam passado sem que Hector Mann tivesse dado o menor sinal de vida. Tirando uma meia dúzia de historiadores e entusiastas de fitas antigas, poucas pessoas pareciam saber que ele alguma vez existira.»

Assim começa esta viagem de 270 páginas. Em primeiro plano testemunhamos alguns anos da vida de David Zimmer, o narrador, um (ex-)professor de literatura que, após a morte da mulher e dos filhos num acidente de avião, entra num abismo depressivo temperado a álcool. Depois, temos a história de Hector Mann, um actor do cinema mudo, desaparecido, supostamente morto, desde 1929. Ele vai desempenhar um papel na reabilitação e no encontro de um novo rumo, por parte do narrador, e a sua história é o fio condutor de todo o livro. Em terceiro plano, são-nos ainda dados a ver vários filmes de Hector Mann.

Dos livros de Paul Auster que já li (para além deste, A Trilogia de Nova Iorque, Timbuktu, O Caderno Vermelho e The Music of Chance) este é, sem dúvida, o meu favorito!

Estórias abensonhadas

26 pequenas estórias que nos levam de viagem ao imaginário moçambicano pela voz incomparável de Mia Couto.
Trata-se de uma escrita deliciosa onde tropeçamos em vocábulos que não sabíamos conhecer e em expressões que nos fazem olhar a realidade de uma nova perspectiva...

"Ele remava, devagaroso..."
"A noite já roía as unhas à madrugada foi quando aconteceu."
"Deus fez o céu para justificar os pássaros."
"A tia Tristereza já tinha dobrado as despedidas e ía a sair."
"ataratonto"
...

Cisnes selvagens

Ano novo, novo fôlego? Vamos ver quanto dura... :)

Esta foi a minha primeira leitura de 2007, ou melhor, foi o primeiro livro que terminei de ler em 2007, porque já o vinha a ler há umas semanas... :)

É um livro muito interessante, especialmente pela componente histórica, e em parte também geográfica, que inclui: ao longo do livro percorremos não só todo o séc. XX chinês, testemunhando as inúmeras reviravoltas políticas com as consequentes transformações socio-culturais que o país sofreu, como ainda temos um vislumbre da variedade paisagística chinesa, desde a Manchúria até às montanhas fronteiras ao Tibete, passando pela Grande Muralha, pelo rio Yangtzé com as suas famosas gargantas, pelas planícies alagadas dos arrozais e por campos do mais variado grau de fertilidade, desde altamente produtivos a quase desérticos.
A par de tudo isto, acompanhamos a saga da família da autora, em particular das três gerações que compreendem a sua própria, a da sua mãe e a da avó. Com a avó assistimos ao período a seguir ao último imperador, com as lutas entre os senhores da guerra, seguido da unificação da China por Chang Kai-Chek (Kuomintang) e da invasão da Manchúria pelos japoneses. Depois da derrota do Japão na 2ª Guerra Mundial segue-se uma guerra civil entre os do Kuomintang e os comunistas (a mãe desempenha um papel activo na resistência clandestina comunista). O longo período em que Mao Zedong governa os destinos da nação passa por diversas fases das quais a mais marcante é a da Revolução Cultural (testemunhada já pela própria autora).
Sem dúvida uma leitura muito enriquecedora e a recomendar!