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para registar e partilhar relatos de viagens: as reais e as resultantes das minhas leituras... :)

09 junho 2009

Cemitério de pianos

... de José Luís Peixoto

Foi preciso ler este livro para ter a motivação necessária para um novo post neste blog. :)
O livro justifica o regresso porque é muito bom e porque o li fora do BC e quero que fique algum registo da passagem dele pelas minhas mãos.

O livro é narrado por 2 vozes principais mas eu diria que pelo menos uma delas se divide em duas que por vezes se confundem, o que, considerando que cada narrador é pai e/ou filho de outro, confere uma tonalidade cíclica a toda a história.

Há um Francisco Lázaro que morre no início da narrativa e que tem quatro filhos, um deles também chamado Francisco Lázaro. Este "primeiro" narrador relata acontecimentos que ocorrem após a sua morte, incluindo a expectativa e o acompanhamento da corrida do Francisco Lázaro filho, em Estocolmo, e 2 conversas (de espírito para criança-que-fala-como-adulta) com a neta de quase 3 anos, Íris.

Há depois a voz do Francisco Lázaro filho, que morre durante a maratona, em Estocolmo, no momento em que, em Portugal, nasce o seu único filho, também chamado Francisco Lázaro. Pela voz deste segundo narrador, construímos o puzzle da sua infância com cenas da vida familiar em que entra o narrador anterior como figura paterna.

Por fim, há o terceiro Francisco Lázaro, filho do maratonista, que acaba por se confundir com o primeiro (seu avô) porque tem uma vida bastante semelhante e terá filhos com o mesmo nome dos tios... Há cenas que não podem ser atribuídas indubitavelmente a uma das vozes, podendo pertencer sem contradições ao avô ou ao neto, ou a ambos...
(Aliás, no relato do segundo Francisco Lázaro há pelo menos uma cena que deveria pertencer ou ser uma repetição de um Francisco Lázaro anterior a ele...)

Todos os Franciscos Lázaros, incluindo o maratonista, trabalham na sua oficina de carpintaria (que passa de uns para os outros, naturalmente) e, sempre que podem, dedicam-se ao restauro de pianos, razão pela qual existe um local na carpintaria onde estão muitos pianos avariados (o cemitério de pianos) e que é um cenário central às várias narrativas.

A narrativa não é linear: o livro é composto por pequenos blocos narrativos e com eles vamos saltando no tempo, no espaço e na voz narradora. Cada bloco é uma peça do puzzle e só no final do livro podemos ver a imagem que foi possível formar da história das 3 gerações de Franciscos Lázaros.

Se quiserem ver a apresentação do livro, pelo autor, com leitura de alguns trechos, aqui fica o link.